Aleve planeja investir em 30 legaltechs em até cinco anos
Por Priscila Spadinger, sócia da Andrade Silva Advogados e CEO da Aleve LegalTech Ventures | Entrevista publicada no jornal O Tempo - BH e repercutida no portal Fusões & Aquisições no dia 02/12/2021
A Aleve Legaltech Ventures - holding formada pela FCJ Venture, o escritório Andrade Silva Advogados e investidores - está acreditando na inovação tecnológica na área jurídica brasileira por meio de startups. Quem conta é a CEO da Aleve, Priscila Spadinger.
- Como surgiu a Aleve? Conta um pouco da história da holding formada pela FCJ Venture, o escritório Andrade Silva Advogados e investidores de diversas partes do mundo.
A Aleve surgiu da união de esforços entre a Andrade Silva Advogados, o Grupo FCJ e eu, pois juntos entendemos que seria possível alinhar inovação e tecnologia para as dores do direito, cujas soluções são muito transversais, ou seja, afetam diretamente todos os negócios em todas as áreas, já que em todos há a necessidade de trabalhos jurídicos para que se concretizem. A inquietação dos fundadores e as expertises individuais proporcionaram a geração de autoridade no mercado sobre o tema legaltechs e, a partir dali, a Aleve conquistou seus atuais investidores e estará de portas abertas para outros em breve.
- Quais são os critérios para a Aleve investir numa startup?
A metodologia que utilizamos é buscar uma a uma no mercado. As interessadas também podem se inscrever no nosso site, que já dá um feedback sobre a continuidade ou não do processo de aceitação com base nas informações fornecidas pela startup. Se o feedback for positivo, uma equipe da Aleve, especializada em inovação, entra em contato para agendar uma entrevista, e, em caso de ser selecionada, essa startup é levada para um evento chamado Investor Day, onde será submetida à avaliação de uma banca examinadora.
Na sequência, a startup é levada para o Conselho de Administração, que decide se a candidata fará parte do ecossistema da Aleve. Por sermos uma venture builder, investimos indiretamente nas startups em fase inicial de operação, construindo o negócio ao lado delas, como sócios estratégicos, e nossa meta é vender a nossa participação societária na Série B, se estiver de acordo com a nossa tese acordada junto aos investidores.
Em média, investimos indiretamente nas startups do nosso portfólio, entre R$ 200 mil a R$ 400 mil. Na sequência, usamos nossa rede de relacionamento, trazendo capital anjo quando a empresa já traciona de alguma forma no mercado. Seguindo o crescimento do negócio, buscamos capital pré-seed, seed, Série A e Série B, quando então vendemos a nossa participação.
- Qual foi o investimento que a Aleve fez até o momento nas startups?
Quando lançamos a Aleve já tínhamos captado a primeira rodada de investidores, no valor total de R$ 1,3 milhão. Abriremos a segunda rodada no início do ano que vem para termos mais R$ 1 milhão na operação. A terceira rodada virá até 2022, e a quarta, em 2023, completando R$ 4 milhões no total da captação final. Os recursos alocados nas startups vêm, num primeiro momento, basicamente de pessoas ou empresas que investiram na holding Aleve.
- Quantos empregos são impactados pela geração de negócio provocada pela Aleve?
No time da Aleve temos cinco colaboradores diretos, além de um centro de serviços compartilhados com quase 50 profissionais. As startups da Aleve têm, no total, quase 20 sócios-fundadores e suas equipes internas de apoio, cujo impacto em empregos ainda é difícil mensurar, pois o setor jurídico é todo impactado. E queremos ter 30 legaltechs em até cinco anos, com impactos diretamente proporcionais aos mencionados anteriormente.
No momento, a Aleve está trabalhando com seis legaltechs no seu portfólio, tem alguma startup de Minas Gerais? A JusHub é mineira. E a própria Aleve faz parte de um grupo genuinamente mineiro, que tem hoje quase cem startups no portfólio, com cerca de 500 investidores diretos.
- Quais são os próximos investimentos para que a empresa atinja 30 legaltechs?
Para que seja possível à Aleve ter 30 legaltechs em seu portfólio, teremos que investir em pessoal, contratando um time a cada cinco startups que vierem somar ao nosso lado. O time é composto por analistas de inovação, marketing, desenvolvimento e comercial. E também contamos com o Centro de Serviços Compartilhados (CSC) do Grupo FCJ, nossa sócia investidora na Aleve Legaltech Ventures, onde temos profissionais formados por designers, backoffice financeiro, jurídico, marketing e desenvolvedores.
- De onde vem os recursos da Aleve para que ela possa investir em startups promissoras para o meio jurídico?
Os recursos vêm de investidores diversos, geralmente profissionais liberais ou suas holdings de participação. Hoje a Aleve conta com 54 investidores, que aportaram de R$ 1.000 a R$ 300 mil cada um em nosso CNPJ. Este valor sustenta a nossa operação e tudo que nossas startups precisam para decolar.
- O segmento de legaltechs é um ambiente predominantemente masculino ou a presença de mulheres no comando, como é o seu caso, vem mudando essa realidade e tornando o comando mais plural?
Segundo o relatório Legaltech Mining Report, o segmento das Legaltechs conta, em média, com três sócios fundadores, quando lançadas, sendo que apenas 25% são mulheres, e 75%, homens. No meu caso, confesso só ter começado a me dar conta desta disparidade de gêneros há, no máximo, cinco anos. Fui educada para não ter um olhar sobre essa distorção na minha carreira e, somente quando então cheguei a cargos de liderança importantes, vi que estava destoando das demais cadeiras, muito ocupadas por homens.
Meu esforço agora é colocar cada vez mais mulheres nos cargos de liderança das nossas legaltechs, seja através do meu exemplo, seja porque homens e mulheres são complementares. Quero dizer que ficarei feliz quando vir que temos 50% dos cargos liderados por homens e mulheres, em proporções semelhantes, retratando a sociedade como um todo, e não um sobressaindo sobre o outro. Tornar o comando mais plural é a realidade, e não descansarei sobre o tema.
- No meio jurídico, quais são as carências mais necessárias de serem resolvidas e que as legaltechs podem dar jeito?
Analytics e jurimetria - plataformas de análise e compilação de dados e jurimetria; automação e gestão de documentos - softwares de automação de documentos jurídicos e gestão do ciclo de vida de contratos e processos; compliance - empresas que oferecem o conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e políticas estabelecidas para as atividades da instituição; conteúdo jurídico, educação e consultoria - portais de informação, legislação, notícias e demais empresas de consultoria com serviços, desde segurança de informação a assessoria tributária; Extração e Monitoramento de Dados Públicos - Monitoramento e gestão de informações públicas como publicações, andamentos processuais, legislação e documentos cartorários; Gestão, Escritórios e Departamentos Jurídicos - Soluções de gestão de informações para escritórios e departamentos jurídicos; IA (Setor Público) - Soluções de Inteligência Artificial para tribunais e poder público; Redes de Profissionais - Redes de conexão entre profissionais do direito, que permitem a pessoas e empresas encontrarem advogados em todo o Brasil; Regtech - Soluções tecnológicas para resolver problemas gerados pelas exigências de regulamentação; Resolução de conflitos online - Empresas dedicadas à resolução online de conflitos por formas alternativas ao processo judicial como mediação, arbitragem e negociação de acordos; Taxtech - Plataformas que oferecem tecnologias e soluções para todos os seus desafios tributários; Civic Tech - Tecnologia para melhorar o relacionamento entre pessoas e instituições, dando mais voz para participar das decisões ou melhorar a prestação de serviços; Real Estate Tech - Aplicação da tecnologia da informação através de plataformas voltadas ao mercado imobiliário e cartorário.