Economia UOL ouve Rodrigo Macedo sobre recuperação judicial da Coteminas, empresa parceira da Shein
Por Rodrigo Macedo, especialista em Recuperação de Empresas na Andrade Silva Advogados | Publicada no Economia UOL em 09.05.2024
O Grupo Coteminas entrou em recuperação judicial nesta quarta-feira (9). A companhia têxtil do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, é dona das marcas Artex, MMartan e Santista e já enfrenta problemas financeiros há anos.
O que aconteceu
A Justiça acolheu o pedido de recuperação judicial. Na solicitação, a Companhia de Tecidos Norte de Minas cita dificuldades financeiras e avalia que alternativa será necessária para reestruturar e preservar a atividade das empresas do grupo.
Desde o fim da pandemia, a companhia vem tendo seus negócios negativamente impactados pela combinação de fatores adversos que acarretaram dificuldades financeiras.
Coteminas, em fato relevante ao mercado.
O pedido também menciona a preservação dos credores. Segundo o Grupo Coteminas, a recuperação é originada no vencimento antecipado das debentures do fundo FIP ORDENES. A dívida foi emitida em maio de 2022 para AMMO Varejo e outras companhias do grupo. O valor total do débito com o fundo não é mencionado.
Último balanço divulgado é do primeiro trimestre de 2023. O último relatório financeiro é referente ao início do ano passado. O balanço cita uma dívida líquida de R$ 672,5 milhões, valor 14% maior do que o observado ao final de 2022 (R$ 590 milhões). A dívida bruta, por sua vez, supera R$ 1 bilhão.
A dívida da Coteminas envolve pagamento a mais de 15 bancos. Na lista de credores da companhia até março de 2023, o maior financiador era o Banco do Brasil, com um total acumulado de R$ 410 milhões, que deveriam ser pagos até o ano passado. O balanço cita ainda débitos com Bradesco, Safra, BTG e outras instituições pequenas e médias.
Saúde financeira da empresa já apresentava problemas. A situação adversa da Coteminas estava precificada no radar do mercado financeiro. Desde o segundo semestre de 2021, os papéis da companhia desabaram quase 90%. A queda é justificada pela reabertura da economia pós-Covid, que alterou o foco dos consumidores.
O cenário macroeconômico joga totalmente contra e a empresa segue com dificuldades nas suas operações. O endividamento vem sendo um dos principais problemas da companhia, que tentou realizar a venda de alguns ativos não operacionais para reduzir a alavancagem, mas não foi o suficiente.
Lucas Lima, analista da VG Research
A empresa firmou parceria com a Shein em 2023. A movimentação estratégica tornou seus clientes confeccionistas fornecedores da Shein para atendimento do mercado doméstico e da América Latina. Em troca, haveria um financiamento de US$ 20 milhões (o equivalente a R$ 100 milhões, na cotação atual) com vencimento em junho de 26 e pagamento de juros anuais.
Empresa tem 60 dias para apresentar plano de recuperação judicial. Com o pedido aprovado pela Justiça, o conglomerado têxtil terá todas as ações contra ela suspensas. A medida impede que os credores executem as dívidas e a empresa consiga operar sem prejuízos no período.
Uma vez apresentado o plano, inicia todo o trâmite de negociação com os credores, assembleia-geral de credores e toda a composição para a empresa apresentar as condições com as quais ela consegue honrar com as dívidas.
Rodrigo Macedo advogado especialista em recuperação judicial
A empresa
A Coteminas é dona de marcas renomadas no mercado. O conglomerado da família do presidente da Fiesp produz itens de cama, mesa e banho. A empresa é a responsável pelas lojas Artex, MMartan e Casa Moysés. Além disso, possui licença perpétua da marca Santista.
Fundada em 1967, a empresa é hoje controlada pela Springs Global. Com a associação, as duas empresas passaram a concentrar as atividades industriais na área de artigos de cama e banho a partir de 2006.
Crise resultou no corte de funcionários no ano passado. Um acordo com os sindicatos dos trabalhadores da Coteminas, em julho e em outubro de 2023, estabeleceu a redução do quadro de funcionários em 34%, com pagamento dos custos rescisórios em até 12 parcelas.
Número de lojas aumentou no primeiro trimestre de 2023. Conforme o último balanço apresentado, a empresa contava com 249 lojas, das quais 74 próprias e 175 franquias em março do ano passado. O número corresponde a um aumento em relação aos 239 comércios contabilizados um ano antes.
Ficou alguma dúvida? Conte com a equipe da área de Recuperação de Empresas da Andrade Silva Advogados.