Diário do Comércio ouve Rodrigo Macedo sobre problemas financeiros sofridos por grandes redes varejistas no Brasil

Foto: Arthur Matsuo / Shutterstock.com

Por Rodrigo Macedo, diretor jurídico na Andrade Silva Advogados | Publicado no portal Diário do Comércio em 17/02/2023


Várias grandes redes varejistas no País não vivem um bom momento. Além da Lojas Americanas, que está em processo de recuperação judicial, a Lojas Marisa anunciou, no último dia 8, que aceitou a renúncia do CEO da empresa, Adalberto Pereira dos Santos, o que causou impacto nas ações dela na Bolsa, que chegaram a valer menos de R$ 1. A rede famosa no segmento de moda feminina já teve cinco presidentes em seis anos.

E as más notícias no segmento não param por aí. Nesta quarta-feira (15), o fundo imobiliário Vinci Logística entrou com uma ação de despejo contra a Tok&Stok, inquilina de um de seus galpões logísticos. A companhia do segmento de móveis e decoração contratou a Alvarez & Marsal para fazer uma reestruturação financeira, que atualmente está envolvida no caso da recuperação judicial da Americanas.

Para especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, os problemas financeiros enfrentados pelas gigantes do varejo não são necessariamente fruto do ritmo fraco da economia dos últimos anos e ainda não é possível saber se o que aconteceu com a Americanas foi erro ou fraude. "Há uma redução no consumo, mas não é suficiente para justificar tantos problemas ao mesmo tempo", afirma o professor da área de Estratégia da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Vicente dos Santos Alves.

O fato é que segmentos que são expressivos para essas grandes redes tiveram recuo nas vendas em 2022 no País, como por exemplo, móveis e eletrodomésticos (-6,7%) e o grupo tecidos, vestuário e calçados (-0,5%), segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No resultado global, o comércio varejista acumulou alta de 1% em 2022. Apesar do crescimento, foi o menor resultado desde 2016 (-6,2%).

Para o sócio da iHUB Investimentos e especialista em reestruturação de empresas, Roberto Aminger, a demanda do consumo do varejo não está relacionada ao que aconteceu com a Americanas. "Neste caso, houve uma falha na contabilização nas contas de fornecedores e banco (empréstimos) no passivo do balanço, se foi proposital (fraude) ou somente erro (gestão) ainda não está muito claro", diz.

O professor da FDC diz que não é possível ainda afirmar que foi fraude. "Provavelmente, uma gestão que não levou em conta o rigor contábil e assumiu riscos acima do que devia", analisa. Para ele, há uma "contaminação na desconfiança" por muitos outros varejos terem práticas semelhantes, e por aversão ao risco dos investidores e fornecedores.

O sócio fundador e conselheiro no Grupo IAUDI, Ivo Cairrão, diz que ainda não é possível saber se houve fraude ou erro grosseiro no caso da varejista Americanas. "Porém, especialistas estão analisando, bem como CVM, empresas de rating, o novo presidente, até mesmo peritos judiciais, indicados pelo juiz que acompanha o caso", diz.

Já o professor do curso de Ciências Contábeis da Estácio Belo Horizonte, o economista Ivan Nogueira, não descarta o impacto da desaceleração da economia dos últimos anos nos negócios da Americanas, em um cenário que sofreu com a pandemia da Covid-19 juntamente com os reflexos da guerra da Ucrânia.

Para o economista, consultor empresarial e associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Carlos Caixeta, um dos impactos do caso Americanas é a necessidade que o conselho de administração das companhias seja mais fiscalizador, mais exigente com as empresas de auditoria. "Então, além de todos os executivos envolvidos, as empresas de auditoria e todos os comitês, toda a estrutura que protege a empresa precisa ser fortalecida porque, em última instância, são essas estruturas que protegem a empresa de eventos ruins como esse", alerta.

Para o sócio do Andrade Silva Advogados e especialista em recuperação e falência, Rodrigo Macedo, os impactos da Americanas no mercado são diversos. No caso do mercado consumidor, houve a saída de diversos fornecedores da plataforma Americanas e há ainda a questão da desconfiança dos consumidores em comprar no e-commerce, já que o produto só é entregue após o pagamento.

O professor da Estácio Belo Horizonte lembra que grandes varejistas brasileiros já passaram por dificuldades nas décadas de 80 e 90 e encerraram as atividades, como foi o caso da Mesbla. Anos depois surgiram outros players no mercado. "O varejo se reinventa", frisa. Para ele, o caso da Americanas serve para "abrir os olhos" dos acionistas para as práticas contábeis que são feitas pelas grandes redes.  Para o sócio da iHUB Investimentos e especialista em reestruturação de empresas, Roberto Aminger, o varejo vai continuar firme, principalmente o e-commerce. " O que pode impactar é que como os analistas terão mais critério em indicar as empresas listadas na Bolsa desse setor", analisa.


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